segunda-feira, 7 de abril de 2008

O trampolim

A manchete do DN de hoje revela que o Serviço Nacional de Saúde está a perder médicos a uma velocidade alarmante. Isto ocorre porque os médicos preferem trabalhar no sector privado, com ordenados e regalias muito superiores às do sector público.

No entanto, a situação dos médicos é semelhante ao que acontece na política. Raros são os antigos membros de Governo ou directores gerais que, depois de cessarem funções, permanecem no sector público. A esmagadora maioria deles vai para o sector privado, onde exercem funções parecidas, mas onde ganham mais do dobro.

O último exemplo desta fuga para o sector privado deu-se com Jorge Coelho. É certo que Coelho já não faz parte de um Governo há muito tempo, mas de qualquer forma, parece-me pouco ético que ele assuma um lugar de destaque na Mota Engil (empresa de construção) quando há alguns anos atrás foi Ministro das Obras Públicas.

Não ponho em causa a integridade moral de Jorge Coelho, até porque não o conheço. Contudo, atitudes destas sujeitam-no à crítica e a uma sensação de promiscuidade entre o sector público e privado que não deveria existir. Não é descabido que nos questionemos se este novo cargo não fará parte de uma qualquer troca de favores.

Hoje em dia, uma ida para o Governo é um verdadeiro trampolim. Qualquer ministro sabe que, no dia em que sair, tem fortes hipóteses de ingressar numa empresa do sector privado, a ganhar ainda mais do que ganhava no Governo, beneficiando essa empresa dos conhecimentos que essa pessoa tem acerca do funcionamento do Estado.

É certo que qualquer um de nós é livre de exercer os cargos que quiser, nas empresas que desejar e que o desejem. Mas também é certo que uma pessoa que passa por um ou por mais Governos, deve saber há certos cargos que lhe estão vedados. Mas, em certas alturas, o dinheiro sobrepõe-se à ética pessoal.

Depois, sujeitam-se às críticas.

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