quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Só os brancos são racistas

A falta de actualizações frequentes no blogue tem destas coisas. Descobri agora mesmo que ainda não escrevi uma única linha acerca do cartoon polémico, publicado nos EUA.

Além de remeter para este texto (que subscrevo inteiramente), há outros pontos que têm de ser focados.

Em primeiro lugar, esta forma moderna e encapotada de censura só existiu porque Obama é preto. E nós, brancos, somos racistas quando censuramos actos que, eventualmente, possam gozar com um preto. Isto porque pressupomos que os pretos, por serem coitadinhos, não podem ser gozados ou comparados com qualquer outra figura, em circunstâncias que não os discriminam pela cor da sua pele. Em suma, os que censuram estes cartoons e estas comparações é que são os verdadeiros racistas. Porque, se fosse um cartoon que gozasse com um branco, não se veriam os grupos anti-racismo a pronunciar-se, já que estes guardam apenas as suas intervenções para defenderem as outras raças, que, por esse facto, são automaticamente alvo de discriminação.

O outro ponto que gostaria de focar já não é racial, mas sim político. Será que Obama não pode ser gozado e criticado? Será que o seu messianismo atingiu tal ponto que qualquer um que goze com ele ou o critique leva imediatamente com o carimbo de racista, existindo uma censura prévia a qualquer tentativa de brincar com Barack Obama?

Pelos vistos, sim. A questão racial, que não foi usada com grande vigor por Obama na sua campanha, é agora utilizada para tornar Obama imune à crítica, impedindo mesmo que haja crítica, já que isso seria considerado racismo.

Gostava também de saber o que dizem estes partidários anti-racismo quando gozavam com Bush. Alguém os viu nas ruas quando Chávez disse que Bush era um ianque de merda? Alguém os viu em grandes manifestações quando Bush era comparado com todo e qualquer animal existente? Ou então, e fugindo um pouco ao tema, alguém os viu nas ruas em defesa dos brancos que eram expoliados de todos os seus bens no Zimbabwe, apenas e só por serem brancos?

Não. E porquê? Porque, pelos vistos, só os pretos podem ser alvo de racismo e discriminação.

É triste que assim seja.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Como resolver a crise

Depois de uma longa pausa, resolvi começar este post pelo título, coisa que julgo nunca ter feito. A minha primeira dúvida foi se o título deveria ser uma interrogação ou uma afirmação. Resolvi-me pela hipótese afirmativa, para manter algum postivismo, e para tentar pôr por escrito uma breve conversa que tive ontem. Recordo ainda, antes de começar, que as ideias que vou aqui deixar provêm de um leigo em matérias económicas.

A meu ver, a crise não surge apenas e só dos produtos tóxicos detidos pelos Bancos. A crise que atravessamos hoje surge, em termos muito simples, porque os americanos resolveram deixar de pagar a prestação das suas casas. Este simples facto, aliado à explosão da bolha do mercado imobiliário, deixou os Bancos com casas que de nada lhes serviam, mas que também não conseguiam ser vendidas, dada a falta de procura.

Com isto, os Bancos perdem tudo. Não só ficam sem o dinheiro que emprestaram, como ainda ficam nas mãos com uma casa que não resolve qualquer problema. Depois disto, o que é que os Bancos fazem? Deixam de emprestar dinheiro, seja a quem for. E, para o mal e para o bem, o que é certo é que sem crédito, não há sistema económico que funcione, e isso causou o colapso a que temos assistido.

Como me disseram ontem, "são tempos históricos". Infelizmente é verdade. Atravessamos tempos históricos de crise económica, financeira e social. E se nada for feito, esta crise não se resolve por si, num vulgar passe de magia.

Em primeiro lugar, e falando sobretudo no caso português, há que recuperar a confiança nas instituições e nas pessoas. Pode parecer um factor irrisório mas, como já escrevi há uns tempos, esta crise tem uma forte componente psicológica, que tem minado a confiança das pessoas, e é urgente recuperar essa confiança antes que seja demasiado tarde. Obviamente que a confiança se recupera não só com falinhas mansas, mas também (e sobretudo) com actos concretos. Assim, é necessário proceder-se a uma profunda reforma legislativa, com vista a alterar aspectos bizarros da regulação dos mercados, por forma a permitir que o mercado funcione verdadeiramente, e não seja viciado pela aplicação de regras inúteis e prejudiciais.

Ainda no que respeita às pessoas, é necessário mudar mentalidades. As pessoas têm de perceber de uma vez por todas o que é e para que serve o crédito. Têm de ganhar consciência de que é errado gastar-se mais do que se ganha para se ter uma televisão topo de gama, em vez de outro aparelho com dois ou três anos. É necessário ensinar a classe média/baixa que o crédito se paga com juros, e que não é possível ostentar-se riqueza sem se ser minimamente rico.

Por fim, é essencial que o Estado saiba até onde intervir. Com esta crise, o Estado tem-se sentido como um Deus, salvando tudo e todos à custa dos contribuintes. É necessário que alguns sectores e algumas empresas morram e fechem, para que surjam outras no seu lugar. É ainda preciso que o Estado, em vez de investir disparatadamente, seja criterioso nos seus projectos e pense, antes de construir mais 20 auto-estradas ou mais 20 barragens, que pode canalizar esse dinheiro para reduzir impostos, aliviando a generalidade da população e permitindo-lhes ter mais dinheiro disponível no final de cada mês, aumentando assim o consumo (e quem sabe, reduzindo o recurso ao crédito) e motorizando a economia rumo à recuperação.

A meu ver, são estes os passos essenciais que devem ser tomados. Haverá alguém com coragem para os dar?