quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Vitória étnica igual a Racismo

No blogue Atlântico (do qual sou leitor assíduo e que muito respeito) estabeleceu-se um paralelismo entre a vitória de Obama, nos EUA, e a vitória de Lewis Hamilton no Mundial de Fórmula 1, cuja última prova se disputou no Brasil.

O paralelismo estabelece-se dizendo que, à semelhança de Obama, a vitória de Hamilton foi outra "vitória étnica".

Ora, isto não faz qualquer sentido. Defender vitórias étnicas não passa de racismo. Porque não se diz "Ganhou Obama" ou "Ganhou Hamilton". Diz-se "Ganhou o preto". E isso é racismo (não pelo uso da palavra "preto" - que é utilizada, por exemplo, para nos referirmos a cores de roupas mas, estranhamente, há um grande medo em usá-la para nos referirmos à cor de pessoas) porque não nos referimos a Obama ou a Hamilton. Referimo-nos à cor da sua pele ou à sua etnia, discriminando-a.

Isto porque, ao classificarmos vitórias destas como "Vitórias étnicas", estamos a rotulá-las e a demonstrar a nossa surpresa por um (ou neste caso dois) preto ter conseguido ganhar as eleições americanas e o Mundial de Fórmula 1. Estamos como que a pensar que um preto nunca poderia chegar tão longe, e isso é racismo. Ao dizer-se isso, pensa-se que os pretos serão de alguma forma menos capazes, e que a vitória de um deles é motivo de júbilo suficiente para abarcar dentro de si uma etnia inteira.

Mas todos dirão que não. Rotulagens deste género, dirão, são discriminatórias "pela positiva" (que é uma expressão que nunca consegui perceber).

E se fosse ao contrário? Poderia eu dizer que, caso McCain (nos EUA) e Filipe Massa (na Fórmula 1), tivessem ganho, isso seria uma "Vitória étnica"?

Não. Nunca. Se eu dissesse isso, era racista. Estava a enaltecer o feito de uma raça e, consequentemente, a humilhar outra.

Enfim, com todo o meu respeito à Ana Margarida Craveiro, colaboradora do Atlântico, títulos como este são racistas e discriminadores. Não só dos pretos, que se vêem tratados como uma etnia tão má que nunca se lhes daria crédito suficiente para ganharem as eleições e a Fórmula 1, mas também dos brancos, a quem uma "Vitória étnica" nunca seria atribuída.