quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Da ironia ou como perder umas eleições

Manuela Ferreira Leite sugeriu ontem suspender a democracia por seis meses para pôr isto tudo em ordem.

Ignoro se o fez com ironia ou não. Mas é óbvio que uma candidata a primeira-ministra não pode, nunca e em qualquer caso, revelar uma ideia (ainda que irónica) de que seria mais correcto proceder-se a uma suspensão da democracia.

A ironia é uma figura de estilo complicada. O seu uso deve ser tão moderado quanto possível e, quando se recorrer a ela, deve ter-se a certeza de que todos os espectadores (directos ou indirectos) irão perceber o seu uso e o seu contexto.

E foi aqui que MFL falhou, caso se considere que esta expressão foi irónica. Conforme se viu, MFL não se certificou de que todos tinham percebido que se tratava de uma ironia, e deu a manchete de mão beijada aos inúmeros jornalistas que estavam presentes.

E o mais grave de tudo é que MFL percebeu isso. E demonstrou que tinha percebido. Basta ver as imagens para concluir isto. Depois desta célebre frase, MFL calou-se, olhou para os papéis (provavelmente pensou "Agora é que me lixei") e, pelo que as televisões mostraram, continuou o seu discurso, com óbvias dificuldades, dado a enorme gaffe que tinha dito antes.

Agora, como se costuma dizer, MFL descascou o pepino, e vai ter de comê-lo... A questão da suspensão da democracia vai-lhe ser atirada à cara durante muito tempo, e vai impedi-la, nas legislativas, de entrar no eleitorado de centro-esquerda (acima de tudo), com MFL a perder uma belíssima oportunidade para roubar votos ao PS nesse sector, dada a crise com os professores e com o novo Código do Trabalho.

Estas declarações provam ainda o extremo cuidado que os políticos têm de ter quando ambicionam qualquer cargo politicamente importante. Com os seus passos a serem permanentemente seguidos, devem (infelizmente, em certos casos) evitar brincar, ironizar ou fugir um pouco do plano que têm traçado.

A Comunicação Social não perdoa (e ainda bem que o faz, desde que o faça de forma imparcial).

E assim, muito provavelmente, se perderam umas eleições...

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