quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Não somos comunas, apesar de parecermos

Nos últimos dias, qualquer estrangeiro que tenha chegado a Lisboa e tenha passeado um pouco pela cidade, vai ficar a pensar que está na China ou na Coreia do Norte.

O motivo? O Congresso do PCP, que encheu inúmeras praças da capital com bandeiras comunistas (incluindo a Praça Francisco Sá Carneiro, o qual, neste momento, deve ter dado várias voltas na tumba...).

Ou seja, autoriza-se que um partido que faz propaganda a uma ideologia que matou mais de 20 milhões de pessoas inunde Lisboa com bandeiras e cartazes, como se vivêsssemos sob o seu jugo.

Uma pequena questão: e se fossem o PNR a fazer isto? Ainda haveria bandeiras espalhadas pela cidade?

Duvido...

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Cavaco, Dias Loureiro e o BPN

O caso BPN está a revelar-se um grande problema para Cavaco Silva. Por um lado, tem suspeitas de que estaria a haver tentativas de associar o seu nome ao Banco. Por outro, tem o caso Dias Loureiro.

Quanto ao primeiro problema, julgo que Cavaco fez bem em distribuir o comunicado. Com isso, renovou a ideia de transparência, e conseguiu afastar as suspeitas antes que elas fossem manchete num qualquer jornal, o que seria terrível para a imagem do Presidente.

O segundo problema é bastante mais delicado, e exige algum cuidado e ponderação. Como membro do Conselho de Estado, Dias Loureiro tem o poder de aconselhar o Presidente. Um poder que é, inclusivamente, diferente do dos outros membros, porque Dias Loureiro foi escolhido directamente por Cavaco, enquanto que os outros, ou estão no Conselho de Estado por inerência de outros cargos que ocupam, ou então foram eleitos pela Assembleia da República.

Portanto, o facto de Dias Loureiro ser escolhido directamente por Cavaco demonstra bem a confiança existente entre ambos.

Em princípio, essa confiança seria suficiente para que Cavaco estivesse a par de todos os outros assuntos profissionais de Dias Loureiro e, julgo eu, também seria suficiente para que Cavaco já soubesse de tudo o que se passava no BPN, quer Dias Loureiro tenha responsabilidades nisso quer não as tenha.

O grande problema é que, em Portugal, qualquer pessoa que é acusada ou indiciada da prática de um crime, desde que seja minimamente conhecida, tem tempo de antena numa qualquer televisão para tentar esclarecer os portugueses da sua inocência. O problema aqui é que nem os portugueses são juízes, nem os estúdios de televisão são tribunais.

E aqui é que Dias Loureiro errou grosseiramente. Mais valia ter ficado bem calado e, se fosse chamado, ter ido aos sítios próprios prestar os esclarecimentos necessários. Esta situação de virgem ofendida que vai à RTP demonstrar o seu total desconhecimento dos crimes praticados no BPN não fica bem a Dias Loureiro, porque põe os portugueses como juízes de algo que não lhes compete a si decidir.

Dias Loureiro tem, portanto, de se preocupar em esclarecer o Ministério Público, a PJ e os Tribunais judiciais, caso lhe seja pedido que o faça. Não pode simplesmente chegar à RTP e debitar a sua inocência, arriscando-se a ver os seus factos a serem desmentidos publicamente.

Neste momento põe-se o problema: poderá Cavaco tolerar que o seu Conselho de Estado possa ver reduzida a sua credibilidade, por causa de um membro por si escolhido?

A meu ver, não.

Cavaco, com toda a confiança e amizade que tem com Dias Loureiro, deve chamá-lo a Belém e pedir-lhe, ainda que a lei não o preveja expressamente, que ele cesse as suas funções no Conselho de Estado.

E, se essa confiança e amizade existir, Dias Loureiro não hesitará em abandonar o Conselho de Estado, poupando Cavaco a um escândalo que nada lhe convém enquanto Presidente da República.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Prémios


A Maria João Marques (ou Carmex), do blog Farmácia Central galardoou gentilmente o Intromissões, juntamente com outros blogs, com o Prémio Dardos.

De acordo com as regras, cabe-me agora escolher 15 blogues (ou talvez menos..) para eu próprio galardoar com o Prémio Dardos.

E os escolhidos são:

A outra varinha mágica, de Nuno Nogueira Santos

O Reaccionário, do Reaccionário

O Sexo dos Anjos, de Manuel Azinhal

Corpo Dormente, de Bruno Nogueira

E fico por aqui. que já estou cansado de fazer tantos links..

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Falando de gaffes...

Isto não é gaffe. É falta de vergonha na cara...

Sócrates entregou Magalhães só para a fotografia.

José Sócrates esteve na Escola do Freixo, em Ponte de Lima, a entregar computadores aos alunos do 1.º ciclo. Mas, depois de o primeiro-ministro ir embora, as crianças tiveram de devolver os Magalhães.

Vi n' O Reaccionário.

Da ironia ou como perder umas eleições

Manuela Ferreira Leite sugeriu ontem suspender a democracia por seis meses para pôr isto tudo em ordem.

Ignoro se o fez com ironia ou não. Mas é óbvio que uma candidata a primeira-ministra não pode, nunca e em qualquer caso, revelar uma ideia (ainda que irónica) de que seria mais correcto proceder-se a uma suspensão da democracia.

A ironia é uma figura de estilo complicada. O seu uso deve ser tão moderado quanto possível e, quando se recorrer a ela, deve ter-se a certeza de que todos os espectadores (directos ou indirectos) irão perceber o seu uso e o seu contexto.

E foi aqui que MFL falhou, caso se considere que esta expressão foi irónica. Conforme se viu, MFL não se certificou de que todos tinham percebido que se tratava de uma ironia, e deu a manchete de mão beijada aos inúmeros jornalistas que estavam presentes.

E o mais grave de tudo é que MFL percebeu isso. E demonstrou que tinha percebido. Basta ver as imagens para concluir isto. Depois desta célebre frase, MFL calou-se, olhou para os papéis (provavelmente pensou "Agora é que me lixei") e, pelo que as televisões mostraram, continuou o seu discurso, com óbvias dificuldades, dado a enorme gaffe que tinha dito antes.

Agora, como se costuma dizer, MFL descascou o pepino, e vai ter de comê-lo... A questão da suspensão da democracia vai-lhe ser atirada à cara durante muito tempo, e vai impedi-la, nas legislativas, de entrar no eleitorado de centro-esquerda (acima de tudo), com MFL a perder uma belíssima oportunidade para roubar votos ao PS nesse sector, dada a crise com os professores e com o novo Código do Trabalho.

Estas declarações provam ainda o extremo cuidado que os políticos têm de ter quando ambicionam qualquer cargo politicamente importante. Com os seus passos a serem permanentemente seguidos, devem (infelizmente, em certos casos) evitar brincar, ironizar ou fugir um pouco do plano que têm traçado.

A Comunicação Social não perdoa (e ainda bem que o faz, desde que o faça de forma imparcial).

E assim, muito provavelmente, se perderam umas eleições...

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

O precedente certo...mas errado

A Ministra da Educação está, indubitavelmente, debaixo de fogo. Desde estudantes e professores, comentadores e jornalistas, todos têm caído em cima da Ministra com este novo caso da avaliação dos professores.

Hoje mesmo, a Ministra veio tentar suavizar a contestação dos estudantes, modificando o Estatuto do Aluno que, incompreensivelmente, continha uma norma que previa que um aluno que faltasse por um motivo justificado, seria submetido a um exame onde, caso chumbasse, chumbaria também o ano.

A intenção da Ministra (tentar demonstrar compreensão e bondade para com os estudantes) é louvável, mas neste momento, não será isso que irá acabar com a guerra.

Isto porque os estudantes já não contestam para defender os seus direitos. Neste momento, os estudantes boicotam aulas e manifestam-se por solidariedade para com os professores. E, neste aspecto, há que tirar o chapéu aos professores, que estiveram brilhantes estrategicamente ao conseguirem atrair os estudantes para a sua luta, desgastando ainda mais a Ministra.

Portanto, a Ministra deu um enorme tiro no pé ao tomar esta medida. Em primeiro lugar abriu um precedente com esta cedência (que obviamente tinha de ser feita, mas que irá abrir caminho à saída de cena da "Ministra inflexível" para dar entrada a uma pseudo-"Ministra compreensiva"). Depois, além do precedente que abriu, esta medida não vai ser suficiente para calar alunos ou professores, que, segundo creio, irão forçar a saída da Ministra ainda antes do final de 2008.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Dos Professores

A propósito do comentário deixado por Nuno Nogueira Santos no post abaixo, julgo ser interessante dizer algumas coisas acerca desta guerra titânica que opõe o Ministério da Educação aos Professores.

Em primeiro lugar, e a título de disclaimer: não voto PS, não gosto do PS e acho que os professores devem ser avaliados.

Uma pessoa que trabalhe, seja lá onde for e em que circunstâncias for, deve ser avaliado. De forma formal ou informal, todos os trabalhadores por conta de outrem em Portugal são avaliados. E esta avaliação é que permite distinguir os óptimos dos bons, os bons dos menos bons e os menos bons dos maus.

E é lógico que assim seja. Porque, se tanto se apregoa o direito á diferença, também as competências profissionais de cada um de nós são diferentes. Cada pessoa tem a sua forma de encarar e de viver a sua profissão. Uns fazem-no por gosto, outros por obrigação. Uns são naturalmente melhores, enquanto outros, por muito que se esforcem, nunca ultrapassam a mediocridade.

É a lei da vida.

Dito isto, é também natural que as pessoas que exercem bem o seu cargo devam ter certas regalias, que premeiem o seu esforço e as suas capacidades naturais para o exercício daquela profissão.

E estas regalias só podem ser dadas mediante uma avaliação, ou seja, uma lista que diga que aquela pessoa cumpriu os objectivos pré-estabelecidos com mérito. E esta avaliação tem de ser feita com rigor, de forma a que sejam premiados apenas aqueles que realmente o merecem.

No entanto, a avaliação pode ser feita de várias formas. Ou se contratam avaliadores externos, sem qualquer ligação àquela empresa em concreto, ou se opta por avaliadores internos. Contudo, uma coisa tem de ficar clara: aqueles que estão avaliados devem ter a mínima intervenção possível no processo de avaliação, não só para permitir que se concentrem no (bom) exercício da sua actividade, mas também para assegurar toda a credibilidade e transparência da dita avaliação.

No caso específico dos professores, a avaliação exige-se. Porque, como já disse acima, não podem ser todos igualmente excelentes e progredir na carreira apenas pelos anos de serviço que têm. A excelência é uma qualidade (quase um dom) que está presente em poucos, e são esses que devem ser especialmente premiados, e não metidos num saco juntamente com todos os outros.

Daí que os professores estejam errados quando criticam as quotas para as notas boas. É natural que essas quotas existam. Porque, caso contrário (e à típica maneira portuguesa) o professor mau arranjaria logo uma cunha junto do avaliador para também ser excelente, o que tornaria a avaliação numa coisa redundante.

Mas os professores estão correctos ao criticar o modelo de avaliação. A burocracia é extremamente elevada, e acredito perfeitamente que tire tempo aos professores para fazerem aquilo para que foram contratados: ensinar.
E é aqui que o Governo erra grosseiramente. Porque uma coisa é inflexibilidade para não recuar na medida de avaliar os professores (o que é correcto), mas outra coisa é ser inflexível e cego ao ponto de não admitir que podem existir outros modelos de avaliação bem menos prejudiciais para os professores.

O grande problema aqui é que, aos olhos da opinião pública, os professores começam a perder a razão que têm. Episódios como os dos ovos contra o carro da Ministra não podem ter sido obra exclusiva da cabeça dos alunos. Ou melhor, até podem, mas, caso o sejam, surgem apenas porque os professores excederam os limites na sua própria luta, seduzindo os seus alunos para entrarem na guerra.

E isso é inadmissível. Porque os alunos não são tidos nem achados na avaliação dos professores, e é aos professores que compete abrir os olhos do Governo.

E isto não se faz através de incitações à violência. Faz-se com conversas e muita diplomacia, coisa que já se percebeu que nenhuma das partes envolvidas tem...

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Um pequeno aparte...

Depois de Tony Carreira e Popota, o Continente vai apostar noutros duetos, como estes:



Transparência na concorrência

O Ministro da Economia achou perfeitamente normal a nomeação do seu procurador, em negócios pessoais, para o cargo de Presidente da Autoridade da Concorrência (AdC).

Obviamente que há certos cargos que exigem confiança pessoal. E este é um deles, já que seria estranho o Ministro nomear (sendo, em último caso, responsável) uma pessoa que nunca tinha visto mais gorda e da qual não tinha quaisquer referências pessoais.

Mas a confiança, por muito pessoal que seja, não pode ser confundida com promiscuidade. E se, "à mulher de César não lhe basta ser séria...", neste caso, sendo Manuel Sebastião a "mulher de César", exigia-se-lhe uma transparência absoluta e uma ligação pessoal ao Ministro que fosse menos "intensa" do que uma relação de procurador em negócios avultados.

Porque, se eu nomeio alguém para me representar na venda de um prédio no Centro de Lisboa (que deve valer 1 milhão de Euros ou mais...), tenho de ter uma relação que vá além da mera confiança pessoal. A minha relação com essa pessoa tem de ser uma relação de amizade muito forte, não podendo ser apenas a relação de amizade normal entre homens de negócios.

Partindo do princípio que essa relação era de amizade forte, foi correcta a nomeação de Manuel Sebastião para Presidente da AdC?

A meu ver, não.

Porque se Manuel Pinho coloca um amigo na cúpula de um órgão que supostamente tem de vigiar um importante sector do Ministério a que ele preside, não está a ser totalmente transparente. A partir daí, muitas das tomadas de posição da AdC podem ser vistas como medidas de proteger o Ministro, amigo pessoal de Manuel Sebastião.

Por exemplo: quem nos garante a nós a exactidão dos relatórios da AdC no mercado dos combustíveis? Ninguém. Nem a própria AdC o garante, já que depois da sua apresentação, Portugal levou um puxão de orelhas da UE, que exigiu um estudo mais profundo da concorrência entre gasolineiras.

Por estas e por outras é que é necessário que um Ministro, ao escolher os Presidentes das entidades reguladoras, deve fazê-lo com extrema prudência. E se é certo que os amigos são para as ocasiões, não é menos certo que, quando em causa está a transparência da actividade económica, por vezes a ocasião faz o ladrão..

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Adenda (15h25m):

Além de tudo isto, o mais chocante é mesmo a forma como Manuel Pinho justifica a sua escolha, dizendo que Manuel Sebastião "até estudou na mesma Universidade de Obama". Simplesmente grotesco, mas não pode ser considerada uma surpresa, dado o nível intelectual que Pinho tem demonstrado enquanto Ministro.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Sugestão

O Jornal de Negócios lançou a versão deste ano do Jogo da Bolsa.

A inscrição é fácil, e a ideia é divertida. Pelo menos permite-nos a nós, leigos na matéria, investir directamente num mercado simulado, mas que se aproxima brutalmente do mercado real.

Acima de tudo, este jogo tem uma grande vantagem: dão-nos 100.000 Euros para as mãos, não pedem nada em troca, e podemos perder esse dinheiro todo que nada se passa (eu que o diga porque, hoje mesmo, "perdi" quase 9 mil Euros...).

Sejam rápidos. As inscrições fecham daqui a dois dias.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Obama: o novo Messias?

A eleição de Barack Obama fez esquecer a crise. Pelo menos, é o que parece. Apesar de não ter muita experiência no acompanhamento de eleições americanas, noto desta vez uma excitação que nunca tinha visto anteriormente.

Nunca, nos últimos 8 anos, tínhamos visto em directo a primeira conferência de imprensa do Presidente eleito. Nunca, desde que me lembro, tínhamos tido tanto alarido à volta de um candidato como agora. Nunca, em Portugal, foi notícia os passos do Presidente eleito nos dias após as eleições.

E, já agora, nunca (ou quase nunca) se tinha visto tanto facciosismo numa cobertura jornalística como se viu nestas eleições, com os diversos órgãos de comunicação a apoiarem Obama como se a sua vida dependesse disso. E, já que o apoiaram, pelo menos que o tivessem dito explicitamente, como fizeram alguns jornais dos EUA.

O Mundo (sobretudo a esquerda europeia e americana) está deslumbrado com Obama. Pior do que deslumbrados, diria mesmo que estão hipnotizados. Bebem as suas palavras como se fossem o elixir da vida e seguem Obama como se ele fosse o flautista de Hamelin.

O Mundo ainda não percebeu que Obama, apesar de bem intencionado, é apenas um homem. E que, como todos os homens, tem defeitos que nem um discurso moralizador de esperança consegue ocultar.

Resta saber quando é que o Mundo irá acordar desta letargia. A mim, parece-me que vai acordar tarde demais, e que vai confiar demasiado no suposto messianismo de Obama, esperando que ele resolva a crise num abrir e fechar de olhos.

Mas as crises (como todos sabem, excepto Manuel Pinho) não se terminam por decretos. As crises terminam-se com acções sólidas de restauração de confiança nos mercados. E há que acordar, de uma vez por todas, e perceber que Obama, apesar de bem intencionado, pretende aplicar medidas que podem não ajudar a acabar com a crise.

E há alguém que lhes diga isso?

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Vitória étnica igual a Racismo

No blogue Atlântico (do qual sou leitor assíduo e que muito respeito) estabeleceu-se um paralelismo entre a vitória de Obama, nos EUA, e a vitória de Lewis Hamilton no Mundial de Fórmula 1, cuja última prova se disputou no Brasil.

O paralelismo estabelece-se dizendo que, à semelhança de Obama, a vitória de Hamilton foi outra "vitória étnica".

Ora, isto não faz qualquer sentido. Defender vitórias étnicas não passa de racismo. Porque não se diz "Ganhou Obama" ou "Ganhou Hamilton". Diz-se "Ganhou o preto". E isso é racismo (não pelo uso da palavra "preto" - que é utilizada, por exemplo, para nos referirmos a cores de roupas mas, estranhamente, há um grande medo em usá-la para nos referirmos à cor de pessoas) porque não nos referimos a Obama ou a Hamilton. Referimo-nos à cor da sua pele ou à sua etnia, discriminando-a.

Isto porque, ao classificarmos vitórias destas como "Vitórias étnicas", estamos a rotulá-las e a demonstrar a nossa surpresa por um (ou neste caso dois) preto ter conseguido ganhar as eleições americanas e o Mundial de Fórmula 1. Estamos como que a pensar que um preto nunca poderia chegar tão longe, e isso é racismo. Ao dizer-se isso, pensa-se que os pretos serão de alguma forma menos capazes, e que a vitória de um deles é motivo de júbilo suficiente para abarcar dentro de si uma etnia inteira.

Mas todos dirão que não. Rotulagens deste género, dirão, são discriminatórias "pela positiva" (que é uma expressão que nunca consegui perceber).

E se fosse ao contrário? Poderia eu dizer que, caso McCain (nos EUA) e Filipe Massa (na Fórmula 1), tivessem ganho, isso seria uma "Vitória étnica"?

Não. Nunca. Se eu dissesse isso, era racista. Estava a enaltecer o feito de uma raça e, consequentemente, a humilhar outra.

Enfim, com todo o meu respeito à Ana Margarida Craveiro, colaboradora do Atlântico, títulos como este são racistas e discriminadores. Não só dos pretos, que se vêem tratados como uma etnia tão má que nunca se lhes daria crédito suficiente para ganharem as eleições e a Fórmula 1, mas também dos brancos, a quem uma "Vitória étnica" nunca seria atribuída.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Yes we can?

A vitória de Obama nas eleições de ontem revela dois factos interessantes: em primeiro lugar, mostra que (ao contrário do que os europeus anti-McCain previam), a diferença entre os candidatos acabou por não ser assim tão grande. Depois, esta eleição de Obama para Presidente dos EUA mostra como os americanos são um povo um pouco ingénuo, que se deixa cativar facilmente por discursos ocos e utópicos, sem terem a preocupação de ver o que está por trás da imagem de Obama.

Em relação a Bush, Obama terá uma grande vantagem: vai ter os media do seu lado (agora que Bush irá sair, prevejo uma grande crise de criatividade para os seus detractores - nomeadamente Jon Stewart, Conan o'Brien, entre outros - que vão ter de inventar novos assuntos para os seus programas). O facto de ter os media do seu lado, permitirá a Obama continuar com o seu discurso de mudança, prometendo mundos e fundos, numa utopia que, pelos vistos, une agora a maioria do povo americano.

Mas um país não se governa com ideias. O povo não se satisfaz com a chegada da mudança, se essa mudança não lhes puser comida no prato e não lhes aliviar os encargos ao fim do mês.

Terá Obama algo mais para dar? Terá este homem ideias concretas que permitam recuperar a maior economia do Mundo e restaurar a confiança nos mercados internacionais? Terá Obama a habilidade de gerir questões sensíveis de política externa, como o Médio-Oriente, o Irão e a Coreia? Terá Obama os (perdoem-me a expressão) cojones de retirar as tropas americanas do Iraque (tal como prometeu)?

À partida, penso que muitas destas questões têm uma resposta negativa. Mas Obama tem 4 anos para provar o contrário..