O CDS, pretensa terceira força política portuguesa, está a encolher. Esta semana, e pela segunda vez num curto espaço de tempo, inúmeros militantes entregaram o seu cartão e abandonaram o partido, como forma de protesto para com a gestão de Paulo Portas.
A meu ver, o grande erro de Portas foi o elevado grau pessoal que ele imprimiu ao partido. O CDS passou a ser PP, mas não por ser Partido Popular. Passou a ser PP porque Paulo Portas monopolizou o partido de tal forma que, neste momento, o CDS não existe sem Paulo Portas, nem Portas existe politicamente sem o "seu" CDS.
Obviamente que um líder, quando está à frente de um partido, tem sempre tendência a moldá-lo de acordo com o seu gosto. Mas no caso de Portas, ele não moldou o CDS a seu gosto; ele erigiu um novo CDS à volta da sua pessoa. E isso fez com que o CDS "do antigamente" perdesse a sua identidade básica e alguns dos seus princípios essenciais, para se tornar na projecção institucional da figura do seu líder.
Mas também é certo que Portas tem muito mérito. Graças a ele, o CDS foi um partido de Governo, coisa que parece pouco provável num futuro próximo. Se Durão Barroso não se tivesse ido embora, quem sabe onde poderia estar neste momento o CDS? Seria certamente a terceira força política, e teria margem de manobra para condicionar uma governação, quer do PS, quer do PSD.
O grande problema é que Portas não vive sem o CDS, e o CDS não vive sem Portas. O grau de envolvimento entre Portas e o CDS é tal, que já não passam um sem o outro (veja-se como o vício de falta de poder afectou Portas enquanto Ribeiro e Castro foi líder). E isto é que complica tudo, quer ao CDS, quer a Portas.
O CDS está numa posição delicada porque, ainda que houvesse outro líder, a sombra de Portas pairaria sempre, tal como ocorreu com Ribeiro e Castro. Nenhum líder, além do actual, estará seguro no CDS enquanto Portas "andar por aí". Portas conseguiu "secar" o CDS, de forma a que não seja concebível este partido sem Portas na liderança.
E isto é perigoso para o CDS, que se vê dividido entre um líder razoável, mas que dificilmente brilhará nas eleições, ou um abismo gigantesco, por falta de alternativas viáveis.
A excessiva pessoalização do CDS também pode sair cara a Portas. E estas desfiliações, apesar de poucas, deveriam chamar-lhe a atenção para isso. Portas, ao aplicar a lei do "quero, posso e mando" dentro do seu partido, arrisca-se a criar divisões onde elas não deveriam existir. E, como é lógico, uma divisão pequena num partido pequeno como o CDS tem muito mais impacto nos votos do que uma divisão pequena num partido grande, como o PSD ou o PS.
Num partido grande, se saem 100 militantes é relativamente indiferente. Num partido pequeno, é a união que faz a força, e todos os votos, militantes e influências podem ser decisivos numas eleições.
Era bom que Portas reflectisse um pouco, e que cedesse na sua lógica centralizadora do partido. Assim, evitar-se-iam divisões e saídas desnecessárias, não haveria má publicidade para o partido, e não se correria o (sério) risco de ver o CDS ser ultrapassado pelo Bloco de Esquerda nas várias eleições do próximo ano.
ALENTEJO ALENTEJO!!
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