Depois de uma longa pausa, resolvi começar este post pelo título, coisa que julgo nunca ter feito. A minha primeira dúvida foi se o título deveria ser uma interrogação ou uma afirmação. Resolvi-me pela hipótese afirmativa, para manter algum postivismo, e para tentar pôr por escrito uma breve conversa que tive ontem. Recordo ainda, antes de começar, que as ideias que vou aqui deixar provêm de um leigo em matérias económicas.
A meu ver, a crise não surge apenas e só dos produtos tóxicos detidos pelos Bancos. A crise que atravessamos hoje surge, em termos muito simples, porque os americanos resolveram deixar de pagar a prestação das suas casas. Este simples facto, aliado à explosão da bolha do mercado imobiliário, deixou os Bancos com casas que de nada lhes serviam, mas que também não conseguiam ser vendidas, dada a falta de procura.
Com isto, os Bancos perdem tudo. Não só ficam sem o dinheiro que emprestaram, como ainda ficam nas mãos com uma casa que não resolve qualquer problema. Depois disto, o que é que os Bancos fazem? Deixam de emprestar dinheiro, seja a quem for. E, para o mal e para o bem, o que é certo é que sem crédito, não há sistema económico que funcione, e isso causou o colapso a que temos assistido.
Como me disseram ontem, "são tempos históricos". Infelizmente é verdade. Atravessamos tempos históricos de crise económica, financeira e social. E se nada for feito, esta crise não se resolve por si, num vulgar passe de magia.
Em primeiro lugar, e falando sobretudo no caso português, há que recuperar a confiança nas instituições e nas pessoas. Pode parecer um factor irrisório mas, como já escrevi há uns tempos, esta crise tem uma forte componente psicológica, que tem minado a confiança das pessoas, e é urgente recuperar essa confiança antes que seja demasiado tarde. Obviamente que a confiança se recupera não só com falinhas mansas, mas também (e sobretudo) com actos concretos. Assim, é necessário proceder-se a uma profunda reforma legislativa, com vista a alterar aspectos bizarros da regulação dos mercados, por forma a permitir que o mercado funcione verdadeiramente, e não seja viciado pela aplicação de regras inúteis e prejudiciais.
Ainda no que respeita às pessoas, é necessário mudar mentalidades. As pessoas têm de perceber de uma vez por todas o que é e para que serve o crédito. Têm de ganhar consciência de que é errado gastar-se mais do que se ganha para se ter uma televisão topo de gama, em vez de outro aparelho com dois ou três anos. É necessário ensinar a classe média/baixa que o crédito se paga com juros, e que não é possível ostentar-se riqueza sem se ser minimamente rico.
Por fim, é essencial que o Estado saiba até onde intervir. Com esta crise, o Estado tem-se sentido como um Deus, salvando tudo e todos à custa dos contribuintes. É necessário que alguns sectores e algumas empresas morram e fechem, para que surjam outras no seu lugar. É ainda preciso que o Estado, em vez de investir disparatadamente, seja criterioso nos seus projectos e pense, antes de construir mais 20 auto-estradas ou mais 20 barragens, que pode canalizar esse dinheiro para reduzir impostos, aliviando a generalidade da população e permitindo-lhes ter mais dinheiro disponível no final de cada mês, aumentando assim o consumo (e quem sabe, reduzindo o recurso ao crédito) e motorizando a economia rumo à recuperação.
A meu ver, são estes os passos essenciais que devem ser tomados. Haverá alguém com coragem para os dar?
ALENTEJO ALENTEJO!!
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