A crise económica expande-se agora para a Europa. Numa altura onde muitos de nós podemos ser afectados, é importante reflectir um pouco, encontrar as razões da crise e aprender com os erros para que isto não se repita.
Começando pelo princípio: a crise acontece, em primeiro lugar, porque se emprestou dinheiro a quem não o podia pagar. Isto mostra bem como, ao contrário do que se diz, os devedores são bastante poderosos. Bastou que inúmeros devedores incumprissem para que os credores fossem à falência.
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Por outro lado, é importante reconhecer que os Bancos trabalham com pouco capital próprio, ou seja, o dinheiro entra sob a forma de depósitos, para logo sair como crédito. E, na maioria das vezes, o montante dos créditos é bastante superior ao montante dos depósitos. No fundo, toda a actividade bancária assenta numa lógica de confiança das pessoas na instituição.
Assim que a confiança é perdida, a instituição morre.
E aqui entra a importância da regulação do sector bancário. A regulação do sector bancário não mantém a confiança por si. Mas, ao estabelecer diversos requisitos aos Bancos, garante aos seus clientes que aquela instituição, por ter sido inspeccionada e por funcionar de acordo com certos critérios, pode ser digna de merecer a confiança do público em geral.
No que respeita ao papel da entidade reguladora, verifica-se que ele é bastante intenso para questões de liquidez, solvabilidade e gestão de riscos.
A meu ver, é no campo da solvabilidade que a regulação desempenha um papel importantíssimo, sendo que em Portugal é imposto aos Bancos o chamado "ratio de solvabilidade", que determina a percentagem de capitais próprios e de fundos emprestados que podem compor o balanço anual de um Banco.
Mas, voltando à questão da crise, porque será que ela começou?
É tudo uma questão de lógica do mercado. Durante anos sem fim, os juros extremamente baixos originam uma expansão sem precedentes do crédito, com as pessoas a pedirem mais dinheiro emprestado, sobretudo para a compra de casas. Ora, se estes créditos serviam para pagar as casas, era natural que se vendessem mais casas e, como tal, o preço das casas disparou, chegando a um ponto onde descola completamente do valor real, não sendo mais do que um preço empolado e artificial. Esta subida do preço das casas, por sua vez, vai contribuir para o aumento do crédito. E como? É simples. Se eu tenho uma casa que na realidade vale 10, mas pela qual o mercado me dá 100, consigo ir a um banco e pedir um crédito de 20, dando como garantia a minha casa, que, artificialmente, vale 100.
Portanto, não foi só o crédito à habitação que despoletou a crise. É certo que ele é a base da crise, mas é preciso ter em conta todos estes créditos paralelos, que só surgem com o aumento desproporcionado dos bens que os bancos exigiam como garantia para a concessão de crédito.
Além de tudo isto, é importante não esquecer que os Bancos actuam de acordo com um modelo de originação e distribuição. Ou seja, os bancos originam e distribuem crédito de uma forma tal que se chega a um ponto onde já é praticamente impossível avaliar o risco de concessão de crédito a uma certa pessoa.
Um breve exemplo: imaginemos um crédito à habitação, onde o banco empresta uma dada quantia. O Banco, depois de emprestar o dinheiro, e para diminuir o risco, vende parte ou a totalidade do crédito às chamadas SPV, através da emissão de obrigações hipotecárias. Essa SPV, por sua vez, vende esse crédito a outra SPV, emitindo os chamados CDO's que, por sua vez, são vendidos a uma nova SPV, mediante a emissão dos chamados CDO2.
Portanto, de acordo com este exemplo, há uma empresa, na cauda do crédito, que tem direitos sobre CDO, que por sua vez têm direito sobre obrigações hipotecárias, que por sua vez têm direito sobre o crédito à habitação longinquamente concedido pelo Banco.
Assim, com toda esta rede na concessão de crédito, torna-se difícil medir o risco, que é um elemento essencial da concessão de crédito. Como tal, concede-se crédito fácil, aumentando o endividamento.
Como é óbvio, no caso do crédito à habitação, além de um incumprimento em massa, houve também quem tenha reparado que o preço das casas estava altamente inflacionado, e o mercado começa e vender como se não houvesse amanhã, originando a queda do preço das casas.
Com tudo isto, cria-se uma grave crise de confiança nos bancos de investimento, havendo dúvidas acerca da sua solvabilidade, e as pessoas venderam em massa as acções desses bancos, originando a sua falência.
Isto explica parcialmente a crise financeira.
Além de todos estes factores, é importante não esquecer o poder do mercado bolsista e (especialmente) dos investidores, em todo este processo.
O fenómeno conhecido como short-selling também ajudou a diminuir drasticamente o valor em Bolsa de certos títulos, originando a falência das respectivas instituições.
Mas o que é o short-selling? Basicamente, o short-selling consiste em vender em Bolsa aquilo que não se tem. Em condições normais, e quando utilizado com prudência, o short-selling acaba por ser vantajoso porque aumenta a liquidez do mercado. Neste caso, e nesta crise, pode ser (talvez tenha sido) absolutamente destruidor.
Exemplificando, o short-selling permite-me a mim vender hoje uma acção que não possuo, numa altura onde o preço dessa acção está em alta. Ou seja, vendo hoje a acção que não tenho, e depois tenho o máximo de 5 dias para a ter e para a entregar ao comprador.
Portanto, o que é que eu vou ter de fazer? Vou ter de pedir acções emprestadas, pagando por isso uma certa taxa de juro. O problema é que, mais tarde ou mais cedo, vou ter de as adquirir, preferencialmente a um preço mais vantajoso, que me permita pagar o juro e ainda ganhar dinheiro.
O grande problema é que, caso haja muita gente a fazer isto, há permanentemente uma pressão no mercado para que as acções baixem, dado que os short-sellers precisam de comprar as acções a um preço que cubra (pelo menos) o valor do empréstimo e da taxa de juro, podendo levar a situações graves de manipulação do mercado.
Para as empresas em Bolsa isto é perigoso, já que as empresas têm um valor de cotação, que pode baixar devido ao movimento de short-selling, fazendo com que os credores dessa empresa "apertem" com os administradores. Pode até chegar-se a um ponto onde o short-selling faz o valor das acções baixar de uma forma tão drástica, que o que ontem valia dinheiro hoje é papel, e a empresa tem de abrir falência devido ao short-selling.
Portanto, é urgente tomar medidas que avaliem o risco de concessão de crédito, e que limitem o short-selling a dadas pessoas e em dados momentos, para que esta crise não se repita.
ALENTEJO ALENTEJO!!
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